Allan Kardec
Allan Kardec, (3 de outubro de 1804, Lyon-FRA, 31 de março de 1869, Paris-FRA) nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, foi um educador e pesquisador francês. Com o pseudônimo de Allan Kardec, foi o Codificador da Doutrina do Espiritismo.
Era de uma família antiga, que se distinguiu na magistratura e na advocacia. Porém, Kardec não seguiu essas carreiras. Desde a primeira juventude, sentiu-se inclinado ao estudo das ciências e da filosofia.
Nascido sob a religião católica, mas educado num país protestante, teve de suportar atos de intolerância. No tocante a essa circunstância, cedo o levaram a conceber a ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos, com o intuito de alcançar a unificação das crenças. Faltava-lhe, entretanto, o elemento indispensável à solução desse grande problema. O Espiritismo veio, a seu tempo, imprimir-lhe especial direção aos trabalhos.
Kardec foi educado na Escola de Pestalozzi, em Yverdun (Suíça), e tornou-se um dos mais eminentes discípulos do método de ensino desse célebre professor. Foi nessa escola que lhe desabrocharam as ideias que mais tarde o colocariam na classe dos homens progressistas e dos livres-pensadores. Concluídos seus estudos, voltou para a França.
Era membro de várias sociedades sábias, entre outras, da Academia Real de Arras, que, em concurso realizado em 1831, lhe premiou uma notável memória sobre a seguinte questão: Qual o sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades da época? Tornou-se membro da sociedade europeia erudita da época. De 1835 a 1840, ministrava, em sua própria casa, em Paris, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia, entre outros, em um tempo em que poucos possuíam recursos e oportunidade de receber este nível de educação.
Entre as suas numerosas obras de educação, podem ser citadas: Plano proposto para melhoramento da Instrução pública (1828); Curso prático e teórico de Aritmética, para uso dos professores e das mães de família (1824); Gramática francesa clássica (1831); Manual dos exames para os títulos de capacidade; Soluções racionais das questões e problemas de Aritmética e de Geometria (1846); Catecismo gramatical da língua francesa (1848); Programa dos cursos usuais de Química, Física, Astronomia, Fisiologia, que ele professava no Liceu Polimático; Ditados normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona, seguidos de Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas (1849), obra muito apreciada na época do seu aparecimento e da qual, ainda recentemente, eram tiradas novas edições.
Antes que o Espiritismo lhe popularizasse o pseudônimo de Allan Kardec, ele já se ilustrara, como se vê, por meio de trabalhos de natureza muito diferente, porém tendo todos, como objetivo, esclarecer as massas e prendê-las melhor às respectivas famílias e países.
Pelo ano de 1855, passou a vivenciar experiências com os espíritos, se entregando a observações perseverantes sobre esse fenômeno, e adotando seu pseudônimo que teve origem em encarnações anteriores.
Enxergou o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível. Reconheceu, na ação deste último, uma das forças da natureza, cujo conhecimento haveria de lançar luz sobre uma imensidade de problemas tidos por insolúveis, e compreendeu o alcance do ponto de vista religioso.
Realizou a tarefa missionária de codificar, isto é, apresentar em livros, metódica, didática e logicamente organizados, comentados e explicados, os postulados da Doutrina Espírita.
Suas principais obras são: O Livro dos Espíritos (1857), referente à parte filosófica; O Livro dos Médiuns (1861), relativo à parte experimental e científica; O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), concernente à parte moral; O céu e o inferno (1865), a justiça de Deus segundo o Espiritismo; A Gênese, os Milagres e as Predições (1868); A Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, periódico mensal começado a 1º de janeiro de 1858, entre outros.
Fundou em Paris, a 1º de abril de 1858, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, sob a denominação de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo objetivo era o estudo e a contribuição para o progresso da nova ciência.
Allan Kardec se defendeu, com inteiro fundamento, de coisa alguma haver escrito debaixo da influência de ideias preconcebidas ou sistemáticas. Homem de caráter frio e calmo, observou os fatos e, de suas observações, deduziu as leis que os regem. Foi o primeiro a apresentar a teoria relativa a tais fatos e a formar com eles um corpo de doutrina, metódico e regular.
Demonstrou que os fatos erroneamente qualificados de sobrenaturais se acham submetidos a leis. Ele os incluiu na ordem dos fenômenos da natureza, destruindo assim, o último refúgio do maravilhoso e um dos elementos da superstição.
Durante os primeiros anos em que se tratou de fenômenos espíritas, estes constituíram antes objeto de curiosidade, do que de meditações sérias. O Livro dos Espíritos fez com que o assunto fosse considerado sob aspecto muito diverso. Abandonaram-se as mesas girantes, que tinham sido apenas um prelúdio, e começou-se a atentar na doutrina, que abrange todas as questões de interesse para a humanidade
Data do aparecimento de O Livro dos Espíritos a fundação de Espiritismo que, até então, só contara com elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance nem toda gente pudera apreender. A partir daquele momento, a doutrina prendeu a atenção de homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos, aquelas ideias conquistaram numerosos aderentes em todas as camadas sociais e países. Esse êxito sem precedentes decorreu sem dúvida da simpatia que tais ideias despertaram, mas também é devido, em grande parte, à clareza com que foram expostas, que é um dos característicos dos escritos de Allan Kardec.
Sobre todos os pontos controversos, sua argumentação, de cerrada lógica, poucas ensanchas oferece à refutação e predispõe à convicção. As provas materiais que o Espiritismo apresenta da existência da alma e da vida futura tendem a destruir as ideias materialistas e panteístas. Um dos princípios mais fecundos dessa doutrina e que deriva do precedente é o da pluralidade das existências, já entrevisto por uma multidão de filósofos antigos e modernos.
O Espiritismo demonstrou a realidade e prova que, nesse princípio, reside um dos atributos essenciais da humanidade. Dele, promana a explicação de todas as aparentes anomalias da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais, facultando ao homem saber donde vem, para onde vai, para que fim se acha na Terra e porque, aqui, sofre.
As ideias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos nas vidas anteriores; a marcha dos povos e da humanidade, pela ação dos homens dos tempos idos e que revivem, depois de terem progredido; as simpatias e antipatias, pela natureza das relações anteriores. Essas relações, que religam a grande família humana de todas as épocas, dão por base, aos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal, as próprias leis da natureza e não mais uma simples teoria.
Em vez da fé cega, que anula a liberdade de pensar, ele diz: Não há fé inabalável, senão a que pode encarar face a face a razão, em todas as épocas da humanidade. A fé, uma base se faz necessária e essa base é a inteligência perfeita daquilo em que se tem de crer. Para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega já não é para este século. É precisamente ao dogma da fé cega que se deve, hoje, tão grande número de incrédulos, porque ela quer impor-se e exige a abolição de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio.
Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações. Diversas obras que ele estava quase a terminar, ou que aguardavam oportunidade para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais, a extensão e o poder das suas concepções.
Já não existe o homem, entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que empunharem forte e vigorosamente o estandarte que ele soube sempre fazer respeitado.
Uma individualidade pujante constituiu a obra. Era o guia e o canal de todos.
Na Terra, a obra subsistirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases ditosas prometidas à humanidade regenerada.
< https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2012/06/Allan-Kardec.pdf>. Acesso em: 11 de nov. de 2023.